Na obra, que chegou dia 23 às plataformas digitais, a língua materna indígena se encontra com ritmos como cocos, cirandas e maracatus
Um diálogo musical. É dessa maneira que se pode definir o encontro de cantadores do povo Fulni-ô, do aldeamento indígena Fulni-ô, com integrantes do coletivo Ponto br, que reúne alguns dos principais mestres e guardiões da cultura brasileira.
O grupo dá vida ao disco Khletxaka, que chegou às plataformas digitais no dia 23 de abril, como resultado desse entrelaçar entre a ancestralidade e os saberes culturais indígenas com as diversas manifestações culturais populares brasileiras, tão bem representadas pelos integrantes do coletivo Ponto BR. Khletxhaka (que se lê klétiaká) significa cantar, na língua materna dos Fulni-ô, o yaathe, pilar de sua identidade.
Ao longo de nove faixas, o álbum desenha um enredo em que a musicalidade afro indígena recria as suas memórias e se entrelaça a diversos gêneros da cultura popular – como cocos, cirandas, maracatus e tambor de mina – representados por diversos mestres do coletivo Ponto BR, entre eles o Mestre Walter, do Maracatu Raízes de África do Recife, e a mestra Zezé de Iemanjá da Casa Fanti Ashanti (MA).
Um dos destaques é a faixa ‘O Rio Encheu’, em que cantadores Fulni-ô e os mestres do coletivo se unem para cantar a dinâmica dos povos originários e das comunidades tradicionais diante as cheias dos rios que ladeiam seus territórios. A força das vozes, ancorada a uma mescla de ritmos, se apresenta como um hino exaltação às comunidades tradicionais indígenas que vivem em perfeita harmonia com os fenômenos naturais.
“Conseguimos fazer um encontro onde podemos cantar a nossa língua, junto aos mestres, que enaltecem seus ancestrais. Fazer elo, promover unificação, isso é importante, o mundo, o Brasil precisa disso”, avaliou o integrante do povo Fulni-ô, Aritana Veríssimo.
A faixa ‘Setsô Fulniô’, por sua vez, retoma a história do povo Fulni-ô, que hoje representa a junção de cinco comunidades tradicionais indígenas.
“Esse trabalho é um marco, significa um elo muito potente entre os povos. Quando a gente canta para a ancestralidade, a gente está mexendo com essa força positiva que cuida de todo ser humano”, completou a mestra Zezé de Iemanjá.
O disco Khletxaka foi idealizado via edital de música do Programa Funarte Retomada 2023, ligado ao Ministério da Cultura. A obra conta com a direção geral de Renata Amaral e Tâmara Jacinto; direção artística e musical: Renata Amaral; produção musical, mixagem e masterização: André Magalhães
Ficha Técnica:
Povo Fulni-ô
Txacumaiá Fulni-ô / Aritana Veríssimo
Tyase Fulni-ô / Yoran Verissimo
Thulni Fowá Fulni-ô / Lenildo Marques
Fitxyá Fulni-ô / Francisco Ribeiro
Sawê Fulni-ô / Lenildo de Matos
Lefesaka Fulni-ô / Leone Lúcio de Sá
Fowá Fulni-ô / Jaelson Veríssimo
Taxiá Fulni-ô / Ramon Quintas
Ponto BR
Mestra Zezé Menezes
Mestre Walter França
Mestre Ribinha de Maracanã
Eder “O” Rocha
Henrique Menezes
Renata Amaral
Thomas Rohrer
Direção geral
Renata Amaral e Tâmara Jacinto
Direção artística e musical
Renata Amaral
Produção artística (Povo Fulni-ô)
Txacumaiá Fulni-ô / Aritana Veríssimo
Produção musical, mixagem e masterização
André Magalhães
Produção executiva
Aline Fernandes e Tâmara Jacinto
Gravação Estúdio 185: André Magalhães e Beto Mendonça
Mestra Zezé Menezes: voz, ferro e cabaça, matraca
Mestre Walter França: voz, alfaia, cabaça, ganzá, matraca
Mestre Ribinha de Maracanã: voz, maracá e ganzá
Eder “O” Rocha: bateria
Henrique Menezes: voz, batá, pandeirão, maracá, cabaça, caixa do divino, ganzá, tamborim, ritinta
Renata Amaral: voz e contrabaixo
Thomas Rohrer: rabeca, sax soprano e ranckett
Txacumaiá Fulni-ô, Tyase Fulni-ô, Thulni Fowá Fulni-ô, Fitxyá Fulni-ô, Sawê Fulni-ô, Lefesaka Fulni-ô, Fowá Fulni-ô, Taxiá Fulni-ô: voz e maracá
Design gráfico e capa: Andrea Pedro
Realização: Acervo Maracá e Onã Cultural
Fotos: Lela Beltrão
Vídeos: Diana Gandra
Redes Sociais: Narelly Batista
Sobre o Povo Fulni-ô
Os Fulni-ô formam um grupo indígena que habita próximo ao rio Ipanema, no município de Águas Belas, em Pernambuco, e também no Santuário dos Pajés, no Distrito Federal. A comunidade indígena é uma das poucas do Nordeste brasileiro que mantém viva a sua língua materna, o yaathe, pilar de sua identidade. Outra tradição da comunidade é a de se recolher, anualmente, para o ritual do Ouricuri, que leva o nome de uma planta sagrada, e representa o momento em que os indígenas celebram suas tradições e tomam suas decisões políticas. De acordo com o último censo do IBGE, é possível encontrar cerca de 8 mil indígenas pertencentes ao povo Fulni-Ô que, apesar de ter conseguido manter viva parte de sua cultura milenar, ainda não possui território demarcado.
Sobre o Ponto BR
O coletivo reúne alguns dos principais guardiões da cultura tradicional, entre eles Mestre Walter, do Maracatu Raízes de África do Recife, a mestra Zezé de Iemanjá da Casa Fanti, Maranhão, e Ribinha de Maracanã, cantador do Bumba Boi de São Luís. Cocos, cirandas, maracatus, tambor de mina, bois, rojões e carimbós são alguns dos gêneros que compõem o repertório do grupo, que faz da arte um local de encontro entre vertentes e gerações, e uma outra via para o fazer musical.